Para
pensar a gestão do cuidado dentro de um modelo de assistência a saúde é preciso
tentar organizar a oferta de ações e serviços de modo que os profissionais e
usuários tenham o mínimo de vínculo entre eles. Para que haja esse vínculo é
necessário que toda a rede de atenção á saúde se comunique e possua fluxos de
referência e contrarreferência para poder desafogar demandas de assistência
médica, como urgências e emergências, ou no caso de escopo de serviços da
atenção de básica, desafogar procedimentos de clínica médica e de enfermagem de
grupos específicos, por exemplo. Não excluo a importância desses procedimentos
que também devem ser feitos, mas enfatizo a necessidade de que outras
atividades não biologicista devem ser incorporadas nas atividades da equipe,
sobretudo no campo da atenção básica.
Partindo
desse ponto de vista, acredito que um dos passos para se alcançar o ato de
cuidado nos serviços de saúde é a incorporação da integralidade na organização
dos serviços. A integralidade vai considerar o indivíduo em todas as suas
dimensões biológica, psicológica e social, além de enxerga-lo como um
integrante da sociedade que possui relações, que pertence a um grupo social,
que recebe informações e influências desse ambiente, além de vários outros
fatores, como a questão ambiental, sanitária, emprego, educação, entre outros. Seguindo
esse pensamento já se é possível à execução do ato do cuidado na relação
profissional e usuário, pois o profissional e usuário vão juntos formular e
tentar adequar ações específicas para que se resolvam questões que implica na
saúde integral desse usuário ou talvez influenciar o coletivo que ele pertença
a depender da necessidade/demanda. A integralidade também pode ser entendida
como acesso de outros dispositivos disponibilizados na sociedade, que não
necessariamente são da área da saúde, e também dentro da área da saúde integrar
outros níveis de atenção, com compartilhamento de ações de uma equipe
multiprofissional e integrada com o objetivo de oferecer melhores e mais
adequados projetos terapêuticos singulares.
A
gestão do cuidado considera, dentro dos serviços de saúde, a possibilidade do
usuário de acessar diversos serviços diferentes do sistema. O objetivo é de
manter vínculo e continuidade do cuidado do usuário, independentemente, de sua
condição ou situação clínica. Toda essa lógica se organiza para que a
integralidade se concretize e isso gere melhores cuidados para o usuário,
organizando e modificando na medida do possível o modelo de atenção, focando no
usuário e suas necessidade ao invés do sistema médico centrado e biologicista.
É
importante que no encontro composto pelo usuário e profissional haja troca e
construção de saber, pois o usuário (ao contrário do que está posto) possui
seus saberes, sua história de vida, valores, religião, trabalho, suas
possibilidades, seus desejos, suas dificuldades, suas fantasias, seus medos, um
momento e tudo isso deve e precisam ser considerados pelo profissional de saúde
para que o cuidado efetivamente aconteça. Apesar dessa dimensão ainda menos
incorporada no cotidiano da prática da produção de saúde, não se exclui a
importância do acesso ao correto diagnóstico e aos procedimentos terapêuticos,
por isso, que é necessário que os profissionais possuam também conhecimentos
mais duros dentro da sua área aliados com a capacidade desses mesmos
profissionais de adequa-los ao contexto e singularidades que se apresentam.
Um dos requisitos para que haja cuidado é a
vinculação e corresponsabilização entre a equipe de saúde e os usuários.
Pensando nisso, principalmente na atenção básica, é preciso que a equipe de
saúde abra as portas para a demanda espontânea, pois é um dispositivo para se
alcançar novos vínculos e aumentar a responsabilização pelos os usuários do
território. Nesse sentido se percebe novas necessidades de saúde e novas
demandas, até porque essas necessidades podem ser mutáveis. Uma sugestão é a
criação de espaços de troca de conhecimentos entre profissionais e equipe,
pactuação de responsabilidades, critérios de encaminhamentos, regresso dos
usuários para as unidades (continuidade, acompanhamento), entre outros. Outra
possibilidade é a construção das linhas de cuidado que garante o acesso
integral aos serviços de saúde e define os possíveis pontos de encontros entre
profissionais e usuários considerando as necessidades e as peculiaridades.
Penso
que para começar a mudar a lógica e a estruturar o modelo de saúde que
considere todos os pontos elencados até aqui, é necessário utilizar a educação permanente
como dispositivo para disparar essa mudança. A educação permanente pode
oferecer essa sensibilidade nos profissionais de saúde, pois olhando o processo
de saúde e doença da população por outra ótica (sem ser o olhar biomédico) o
exercício dos profissionais se torna bem mais efetivo e os resultados
alcançados são os melhores possíveis.
O
PMAQ AB (Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica) no seu
instrumento de avaliação externa, também tende a induzir que as equipes de
atenção básica, os gestores e as unidades básicas de saúde incorporem
atividades ou modifiquem alguns quesitos que o Ministério da Saúde considere
primordiais para uma atenção básica resolutiva e acessível. É possível
verificar no instrumento de avaliação externa – satisafação do usuário – por
exemplo, questões de como se dá o acesso aos serviços dos usuários na unidade
básica, se conseguem ser ouvidos, se independente do horário e do dia conseguem
ser ouvidos por algum profissional, como acontece o acolhimento, se houve
resolutividade da necessidade, se houve demora de atendimento, entre outros.
Essas questões, minimamente, fazem com o que um conjunto de atores que produzem
saúde reflita questões que ainda não eram consideradas para planejamento e
organização dos processos de trabalho. Alcançando alguns desses resultados já é
possível começar a discutir e agir na perspectiva da gestão do cuidado. O
instrumento de avaliação externa pode então ser um bom indutor dessa prática na
realidade e cotidiano dos serviços de saúde